Síndrome de Burnout

 


  1. INTRODUÇÃO


O presente artigo tem o propósito de apresentar o conceito de Burnout e como ele vem cada vez mais atingindo indivíduos em várias áreas de sua vida.

Para tal, será apresentado uma revisão bibliográfica a fim de esclarecer dúvidas sobre essa temática.

Este trabalho se justifica, pois considera que o compromisso da psicologia é a promoção de saúde ao sujeito, isso inclui se debruçar em busca de intervenções terapêuticas emancipatórias, rompendo com a lógica medicalizante presente no campo da saúde mental.


2. ESTRESSE VS. BURNOUT


Se por um lado o estresse é um estado natural que faz parte da vida, podendo se tornar um problema se for excessivo ou frequente, por outro lado o Burnout é um estado de exaustão física e emocional causado por um trabalho desafiador por um longo período de tempo. Essa exaustão é geralmente resultado de estresse prolongado ou frustração constante, comum no ambiente de trabalho (Falco, 2021).


3. HISTÓRIA


Em 1936, no filme “Tempos Modernos”, o diretor Charles Chaplin aborda a vida urbana nos Estados Unidos em 1930, mostrando os métodos de produção industrial que se baseiam na divisão e especialização do trabalho na linha de montagem. Essa representação critica o sistema capitalista e o modo de produção industrial, evidenciando a situação atual que pode levar ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout (Sarno et al, s/d).

Nos anos que se sucederam ao filme, aparece, pela primeira vez, o termo Burnout, que foi utilizado pela primeira vez em 1953, em um estudo de caso publicado por Schwartz e Will, conhecido como “Miss Jones”, o qual descreve a situação de uma enfermeira psiquiátrica desencantada com seu trabalho. Já em meados dos anos de 1960, Em 1960, Graham Greene publicou outro livro intitulado “A Burnout Case”, onde relata a história de um arquiteto que abandonou sua profissão devido a sentimentos de desilusão. Os sintomas e sentimentos descritos pelos dois profissionais correspondem ao que hoje conhecemos como Burnout (Sarno et al, s/d).

O termo “burnout” era, também, utilizado como uma expressão popularizada nos anos de 1960, por indivíduos que abusavam de drogas, para descrever um estado de exaustão extrema. Posteriormente, passou a ser adotada naturalmente nas free clinics [1] americanas por seus próprios voluntários, para descrever a experiência de alguns deles que sofriam com as condições de trabalho e as demandas dos pacientes (Lima, 2021). O autor destaca que:



O sucesso da metáfora do burnout reflete as origens do conceito no discurso geral. As pessoas usavam o termo para descrever um determinado tipo de experiência antes que a psicologia científica o identificasse como um fenômeno digno de estudo. Freudenberger (1974) emprestou o termo da cena das drogas ilícitas, onde, de forma coloquial, se referia ao efeito devastador do abuso crônico de drogas. Usou o termo para descrever o desgaste emocional gradual, a perda da motivação e comprometimento reduzido entre os voluntários da St. Marc Free Clinic no East Village de Nova York, que ele observou como psiquiatra consultor. Tais free clinics para viciados em drogas e pessoas desabrigadas cresceram a partir do movimento anti-establishment. Não de menor importância, o próprio Freudenberger foi vítima de burnout duas vezes, o que aumentou sua credibilidade na divulgação da mensagem sobre o burnout. Seus escritos sobre o assunto eram fortemente autobiográficos e seu impacto é ilustrado pelo fato de que em 1999 recebeu o Prêmio Medalha de Ouro por Realizações de uma Vida na Prática de Psicologia na Convenção da APA em Boston (Schaufeli, Leiter & Maslach, 2009, apud Lima, 2021, pp. 29, 30).




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[1] As free clinics eram organizações que ofereciam ajuda a indivíduos com dependência de drogas e pessoas marginalizadas e desassistidas, que também sofriam de problemas relacionados a drogas, doenças sexuais, abscessos e questões médicas em geral (Lima, 2021).


Segundo ele, o termo foi incorporado pela cultura na linguagem informal, onde o significado exato em inglês tem pouco ou nada a ver com os fenômenos aos quais se refere - a palavra “burnout” se refere a um esgotamento extremo, devastador, comparável a um dano irreparável ou irreversível (Lima, 2021).

A terminologia, entretanto, “Síndrome de Burnout” foi criada em 1974, nos Estados Unidos, por Herbert J. Freudenberger (1926-1999), um psicólogo alemão,  que “foi o grande divulgador inicial da noção de burnout, que se naturalizou na linguagem de leigos e profissionais” (Lima, 2021, p. 23). Ele observou que muitos dos trabalhadores apresentavam “um processo gradual de desgaste no humor e/ou desmotivação” (Sarno et al, s/d, p. 9). Com efeito, tal processo “durava aproximadamente um ano, e era acompanhado de sintomas físicos e psíquicos que denotavam um particular estado de ‘exaustão’” (Sarno et al, s/d, p. 9).

Ainda no final dos anos de 1970, Christina Maslach (1946) [2], uma psicóloga social da Universidade da Califórnia, desenvolveu uma nova perspectiva do fenômeno, fundamentada na psicologia psicométrica dos Estados Unidos. A origem do termo “burnout” foi inicialmente inspirada por fontes de conhecimento popular e, de acordo com a autora, surgiu contemporaneamente e de maneira semelhante ao trabalho de Freudenberger (Lima, 2021). O autor declara que:


Aproximadamente à mesma época, Maslach, uma pesquisadora em psicologia social, estudava as maneiras através das quais as pessoas lidavam com estimulação emocional no trabalho. Ela estava particularmente interessada em estratégias cognitivas como “desinteresse” e “desumanização como autodefesa”, mas logo descobriu que tanto a estimulação quanto às estratégias tinham implicações importantes para a identidade profissional e o comportamento das pessoas no trabalho. Quando, por acaso, descreveu esses resultados para um advogado, foi informada de que advogados de populações carentes chamavam esse fenômeno em particular de “burnout”. Uma vez que Maslach e colegas adotaram esse termo, descobriram que ele era imediatamente reconhecido pelos entrevistados; nascia, assim, uma nova expressão coloquial. (Maslach & Schaufeli, 1993, apud Lima, 2021, p. 42).



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[2] “Para diagnosticar o burnout, ela desenvolveu um questionário, o Maslach Burnout Inventory, MBI, que é dividido em três blocos e mede cada uma das três variáveis atribuídas ao burnout — Exaustão Emocional (EE), Despersonalização – distanciamento afetivo (DE) e realização profissional (RP). Por entender que o burnout corresponde a um fenômeno multidimensional, deu o nome de tripé multidimensional da síndrome ao conjunto dessas três variáveis (EE, DE e RP). Tanto a criação dos quesitos quanto o uso do MBI são baseados em ferramentas estatísticas” (Maslach, 1980, apud Lima, p. 42).



Desta feita, juntamente com Susan Jackson, foi criado e implementado em diversas nações o Inventário para Burnout, conhecido como Maslach Burnout Inventory (MBI), que avalia as três dimensões do Burnout: exaustão emocional, despersonalização e realização profissional (Sarno et al, s/d).

Outra pessoa de suma importância, que não se pode deixar de mencionar, é Wilmar Schaufeli (professor de Psicologia Clínica e Organizacional na Universidade de Utrecht, na Holanda), sendo ele o criador do Inventário BAT – Burnout Assessment Tool.  Schaufeli “é , talvez, o mais importante teórico da área”, o qual publicou em coautoria com Maslach, sendo ele “um dos colaboradores do último Manual do MBI” (Lima, 2021, p. 69). Além disso, “escreveu um livro — The Burnout Companion to Study & Practice – a critical analysis — que é central no estudo do burnout, com prefácio de Maslach, que ali registrou: “é a única fonte verdadeira à qual você deve se referir” (Schaufeli & Enzmnann, 1998, apud Lima, 2021, p. 69).


4. DEFINIÇÃO


Falco (2021), menciona que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente reconheceu a Síndrome de Burnout como um fenômeno ocupacional, sendo, com isso, adicionado à nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da OMS como QD85 Burnout. Declara que:


Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do Estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. É caracterizado por três dimensões: 


1) sensação de esgotamento ou exaustão de energia; 

2) aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; e 

3) uma sensação de ineficácia e falta de realização. Burn-out refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida (Classificação Internacional de Doenças (CID-11); apud Falco, 2021, p. 26).


Trata-se, enfim, de uma condição médica caracterizada por um conjunto de sintomas que definem um estado clínico específico, muitas vezes associado a problemas de saúde cujas causas nem sempre são diagnosticadas (Sarno et al, s/d).

Nagoski e Nagoski (2020), completa o entendimento dizendo que o termo “Síndrome de Burnout” (criado por Herbert Freudenberger, em 1975) pode ser definido por três componentes:


  • Esgotamento emocional - a fadiga resultante da excessiva dedicação por um longo período de tempo.


  • Despersonalização - a perda ou esgotamento da empatia, dedicação e compaixão.


  • Senso de realização reduzido - a sensação insuperável de futilidade, sentindo que nada do que é realizado faz diferença.


Em linhas gerais, Lima (2021) afirma que é mencionado ora como conceito, ora como sentimento, ora como risco ocupacional. Não se pode, assim, classificar o burnout como uma doença e risco ocupacional ao mesmo tempo, pois são conceitos que se excluem mutuamente. O risco ocupacional refere-se à probabilidade de causar danos à saúde do trabalhador, não ao próprio dano. Além disso, pode haver uma confusão entre as experiências subjetivas das pessoas que sofrem de burnout (sintomas) e os eventos objetivamente observáveis (sinais). 

Desta feita, vale salientar que a essa síndrome foi originalmente mencionada como um problema que afetaria aqueles que atuam em profissões que envolvem interação direta com outras pessoas, como enfermeiros, professores, policiais, bombeiros, médicos etc. No entanto, atualmente, ela é reconhecida como uma condição que pode impactar qualquer pessoa que trabalhe sob condições de estresse, seja devido à carga de trabalho, estilo de gestão, competitividade ou fatores pessoais internos (Sarno et al, s/d).

Essa síndrome tem sido descrita, de forma ampla, como o resultado da intensa dedicação a um projeto específico, a frustração ao não alcançar as metas estabelecidas e um subsequente estado de esgotamento que aflige a pessoa. Segundo o criador da ideia, “O burned out é uma pessoa que está num estado de fadiga ou frustração causado pela devoção a uma causa, modo de vida ou um relacionamento que não correspondeu às expectativas” (Freudenberger & Richelson, 1980, apud Lima, 2021).



5. ESGOTAMENTO PROFISSIONAL


Quanto ao esgotamento profissional, acredita-se que ele passou a ser reconhecido como uma doença e adquiriu uma posição significativa no imaginário de muitas pessoas, chegando ao ponto em que sua legitimidade é raramente questionada, sendo considerada como algo óbvio e incontestável (Lima, 2021).


O burnout se manifesta através de muitas formas sintomáticas que variam em sintomas e gravidade de pessoa para pessoa. Geralmente ocorre cerca de um ano depois que alguém começa a trabalhar em uma instituição, porque é exatamente nesse ponto que vários fatores começam a entrar em cena (Freudenberger, 1974, apud Lima, 2021, p. 31).

Falco (2021), acrescenta que alguns especialistas veem o Burnout como decorrente de dificuldades na gestão da vida ou dos desafios apresentados por ela. Outros profissionais o classificam como uma síndrome depressiva devido aos sinais e causas semelhantes à depressão. Há aqueles que argumentam que o Burnout seria o inverso do engajamento, levando a pessoa afetada a não conseguir se comprometer ou se envolver em suas atividades no trabalho e na vida social, podendo ser causado por vários fatores do ambiente de trabalho, como carga excessiva de tarefas, falta de recompensa ou reconhecimento, falta de controle sobre as atividades, ausência de imparcialidade e incompatibilidade entre a função no trabalho e as aspirações pessoais. Essas questões provocam estresse tanto no ambiente profissional quanto fora dele, e com o tempo vão se acumulando e drenando cada vez mais nossa energia. 

Lima (2021), complementa, citando Freudenberger:


Um dos principais prelúdios para o burnout parece ser a perda de carisma do líder e a frustração do pessoal da clínica com essa decepção. Este autor acredita que muitas vezes esperamos, por ter sido uma pessoa ou poucas pessoas que fundaram a clínica, que elas sejam quase super pessoas. Quando começam a nos decepcionar, nós as atacamos e o resultado, a menos que seja interrompido, traz um dano psíquico para toda a equipe (Freudenberger, 1974, apud Lima, 2021, p. 31)


Com efeito, encontra-se na literatura afirmações alarmantes, tais como: “Em estudo de equipe pertencente à OMS, considerou-se o burnout como uma das principais doenças dos europeus e americanos, ao lado do diabetes e das doenças cardiovasculares” (Trigo, 2007, apud Lima, 2021).

Pode-se mencionar, contudo, que alguns fatores catalisadores da Síndrome de Burnout incluem estressores internos (como crenças irracionais, padrões comportamentais, falta de assertividade e dificuldade em expressar sentimentos) e estressores externos (problemas no ambiente de trabalho, mudanças políticas). Competição, complexidade das tarefas, instabilidade no emprego, horas extras excessivas, necessidade de atualização constante e dificuldade em separar vida profissional da pessoal podem levar à Síndrome de Burnout. É importante definir o que ela é e não é (Sarno et al, s/d).


6. SINTOMATOLOGIA


Quanto aos sintomas mais comuns identificados da Síndrome de Burnout incluem o cinismo, exaustão e a incapacidade de perceber a eficácia profissional. A seguir segue a definição de cada um desses sintomas (Falco, 2021):


  • Cinismo: um sentimento negativo intenso em relação ao trabalho, onde a pessoa sente que sua função é inútil ou não contribui para seus objetivos valorizados.
  • Exaustão: tanto física quanto mental, manifestando-se em sentimentos de depressão, cansaço e dificuldade de concentração e foco.
  • Incapacidade de perceber a eficácia profissional: sensação de incompetência ou ineficiência no trabalho, levando a uma percepção negativa de suas habilidades. 

Sarno, também, apresenta tais elementos em três dimensões (Sarno et al, s/d):


  •  Esgotamento emocional: A diminuição da motivação no trabalho leva ao surgimento de crenças de incapacidade de lidar emocionalmente com a situação, resultando em sensação de exaustão, perda de energia, idealismo e fadiga. Isso impacta negativamente na saúde geral dos indivíduos, tanto física quanto emocionalmente.
  • Despersonalização ou Cinismo: A dimensão crucial para distinguir o estresse ocupacional é a despersonalização, onde indivíduos com Síndrome de Burnout mostram comportamento hostil ou indiferente em relação aos colegas de trabalho, agindo de forma apática, irritada e distante emocionalmente, marcados pela falta de empatia.

  • Ineficácia: Baixa eficácia no trabalho e autocrítica negativa resultam em falta de perspectiva de carreira, frustração, queda na autoestima e redução da produtividade.


            Apresentando-se em três fases, sendo elas (Sarno et al, s/d):


  • Fase 1 - de alerta: é quando a pessoa se depara com algum elemento estressor, interno ou externo, que desencadeia manifestações sintomáticas agudas.
  • Fase 2 - de resistência: é quando o organismo tenta restaurar seu equilíbrio interno. O indivíduo procura lidar com os estressores e as manifestações agudas tendem a diminuir e desaparecer.
  • Fase 3 - de exaustão: ocorre diante da contínua exposição ou grande intensidade dos estressores. Nessa fase, as manifestações sintomáticas agudas retornam e o organismo não consegue restaurar seu equilíbrio interno.

Por fim, o autor divide as perturbações em quatro aspectos (Sarno et al, s/d):


  1. Físicos: Distúrbios do sono, dores musculares e de cabeça, enxaquecas, problemas gastrointestinais, imunodeficiências, disfunções sexuais, fadiga, problemas cardiovasculares e respiratórios são algumas condições de saúde que podem ser causadas por diversos fatores.
  2. Psicológicos e Cognitivos: Possíveis sintomas incluem dificuldade de atenção e concentração, sensação de alienação e solidão, problemas de memória, lentidão no pensamento, irritabilidade, impaciência, baixa autoestima, fadiga, depressão ou disforia. Estes sintomas podem indicar um problema de saúde mental ou emocional.
  3. Comportamentais: Os sintomas incluem negligência ou excesso de escrúpulos, aumento da agressividade, dificuldade para relaxar, abuso de substâncias, resistência à mudança, comportamentos de risco, absenteísmo e até mesmo suicídio.
  4. Defensivos: Tendência ao isolamento, perda de interesse no trabalho e lazer, cinismo.


        Indovíduos com Burnout geralmente apresentam desequilíbrio em suas vidas, sentem falta de energia ou vontade para se socializar, descuidam da saúde e se desiludem com o trabalho, mesmo na ausência de eventos específicos que contribuam para isso (Falco, 2021).

Enquanto o estresse crônico e persistente ao longo do tempo pode deixar a pessoa exausta, sem energia e motivação, prejudicando seu desempenho no trabalho e em outras áreas da vida, as pessoas com Burnout passam por situações comuns a todos, mas devido à falta de recursos para lidar com o estresse, acabam sobrecarregadas e esgotadas, tentando resolver problemas sem sucesso (Sarno et al, s/d).

Em suma, trata-se de um conjunto de sintomas que caracterizam um estado clínico ligado a problemas de saúde, muitas vezes sem causas identificadas. Ela envolve fenômenos no ambiente de trabalho, resultando em sintomas físicos e psicológicos devido ao desequilíbrio interno, levando a uma profunda exaustão física e mental, sendo caracterizada pela falta de motivação que resulta na diminuição da quantidade e qualidade do trabalho. É um estado de exaustão física, emocional e mental causado pelo excesso de envolvimento em situações emocionalmente exigentes (Sarno et al, s/d).

É importante destacar que a manifestação de sintomas de depressão pode variar de pessoa para pessoa, mas um dos sinais mais evidentes é a falta de motivação, que pode resultar na redução da quantidade e qualidade do trabalho realizado (Sarno et al, 2022?).

Ademais, o estresse não é sinônimo de Síndrome de Burnout, mas sim uma resposta natural do corpo que ocorre em situações de perigo ou ameaça, resultando em mudanças físicas e emocionais; porém, estresse alto, como já foi citado, pode eventualmente levar ao desenvolvimento do Burnout (Sarno et al, s/d).

Não se enquadra no quadro da Síndrome de Burnout, por fim, o transtorno mental, comportamental ou do neurodesenvolvimento não é uma condição de saúde com causa definida, e não se refere a experiências de vida que não estão relacionadas à área ocupacional. Desta maneira, as manifestações clínicas do Burnout não devem ser confundidas com outras condições como depressão, ansiedade ou estresse. É uma experiência individual relacionada ao trabalho, com caráter negativo para quem a vivencia. O Burnout é um processo prolongado decorrente das características do trabalho, não um evento pontual que pode ser superado com descanso (Sarno et al, s/d).


7. CONSIDERAÇÕES


Em suma, após o exposto, fica claro que Burnout tem sido designado como uma “síndrome”, que é definida como um conjunto de sintomas que caracterizam as manifestações de uma ou várias doenças ou condições clínicas, independentemente das causas que as diferenciam. Portanto, utilizar o termo “síndrome” para burnout poderia permitir a inclusão de uma ampla gama de sinais e sintomas, possibilitando assim a criação de um possível “lugar nosológico” para o fenômeno — ou seja, para considerá-lo uma entidade clínica. No entanto, mesmo que uma determinada síndrome possa abranger várias doenças e condições clínicas, as diferentes síndromes requerem diagnósticos diferenciais entre si. Por exemplo, podemos nos referir a alguns casos de depressão como “síndrome depressiva”, ou às esquizofrenias como “síndrome esquizofrênica”, mas uma não deve ser confundida com a outra, assim como síndromes inflamatórias não devem ser confundidas com síndromes infecciosas. “Síndrome” não significa simplesmente “qualquer conjunto” (Lima, 2021, p. 68). O autor completa, dizendo:


Existe uma associação entre burnout e doenças cardiovasculares, musculoesqueléticas, cutâneas e alérgicas e, no sentido prospectivo, com diabetes mellitus tipo II e hiperlipidemia... Alguns autores relatam alterações neuroendócrinas, hemostáticas e inflamatórias em pacientes com burnout, que não diferem essencialmente daqueles encontrados em outras condições de estresse crônico, transtorno de estresse pós-traumático ou depressão. (Kaschka, Korczak & Broich, 2011, apud Lima, 2021, p. 68).


Historicamente, como já foi citado, Freudenberger foi o pioneiro na divulgação da noção de esgotamento profissional, que se tornou comum na linguagem tanto de leigos quanto de profissionais. Mais tarde, Christina Maslach desenvolveu o MBI - Maslach Burnout Inventory (um questionário amplamente utilizado em pesquisas atuais, fundamentado em análises estatísticas) [3]. Há outros que também se empenharam na criação de inventários, questionários e ferramentas para o rastreio do burnout [4]


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[3]  “O funcionamento do inventário é bem simples e permite o autodiagnóstico de burnout em poucos minutos. É formado por três blocos de questões que correspondem às variáveis do fenômeno (EE, exaustão emocional, DE,despersonalização e RP, realização profissional). Em cada um deles é dada uma nota às questões apresentadas, dependendo da frequência com que são experimentadas pelo respondedor. As notas variam de zero (nunca) a 6 (todo dia). Em seguida, é feita a soma das notas em cada bloco, cujo resultado vai indicar burnout leve, moderado ou grave. A apresentação do MBI é feita sob a forma de uma tabela, com sete colunas com notas de 0 a 6. Nas linhas estão as questões a serem respondidas” (Lima, 2021, p. 45).

[4]  “Dentre essas ferramentas, há o CBI — Inventário de Burnout de Copenhagen (Kristensen et al., 2005), o BM — Burnout Measure (Pines & Aronson, 1988), BM Short (Malach & Pines, 2005), o Shirom-Melamed Burnout Questionnaire (Shirom, 1989), o Bergen Burnout Inventory – BBI (Feldt et al., 2014), o Oldenburg Burnout Inventory — OLBI (Halbesleben & Demerouti, 2005) e o GBQ — Granada Burnout Questionnaire (De la Fuente et al., 2013). Na Holanda, há uma versão local do MBI, desenvolvida por Schaufeli — UBOS (Utrecht Burnout Scale) —, com 15 itens (Schaufeli & Van Dierendonck, 2000, apud Lima, 2021, pp. 42, 43). [...] Além desses, existe ainda um questionário com uma única questão, denominado ‘Single Item Burnout Measure’, no qual o que chama a atenção é que essa ferramenta parte do pressuposto de que o respondedor sabe o que é burnout (Dolan, Mohr & Lempa et al., 2015, apud Lima, 2021, p. 43). [...] Há muitos inventários desenvolvidos para profissões específicas, como é o caso do brasileiro Inventário de Burnout para Psicólogos (Benevides-Pereira & Moreno-Jiménez, 2000,  apud Lima, 2021, p. 43). Benevides-Pereira desenvolveu, ainda, a validação do Maslach Burnout Inventory para o português. A autora comenta, quanto à diversidade e ao uso desses questionários, que ‘No entanto, estes têm demonstrado algum tipo de dificuldade por divergências teóricas, culturais, abrangência ou, até mesmo, por dificuldades referentes a direitos autorais’ (Benevides-Pereira, 2015, apud Lima, 2021, p. 43). [...] Schaufeli apresentou, em 2020, seu próprio inventário para burnout, o Burnout Assessment Tool – BAT (Burnout Assessment Tool), [...] no qual apresenta um novo conceito de burnout, com quatro dimensões principais — exaustão, distanciamento mental, comprometimento cognitivo e comprometimento emocional — e três dimensões secundárias — humor deprimido, sofrimento psíquico e queixas psicossomáticas (Lima, 2021, p. 44). Porém, o MBI é a ferramenta mais utilizada. 

8. REFERÊNCIAS


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GERMER, Christopher K.; SIEGEL, Ronald D.; FULTON, Paul R. Mindfulness e psicoterapia. Artmed Editora, 2015.


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